quinta-feira, 21 de março de 2013

- sem título -

o sopro que nos enche de novas moléculas
o sangue,

aquele orvalho que se eleva ao céu
no final das madrugadas,

poema.

e é os dias. todos. e as noites. todas.
assim possam os homens. todos. ter poesia.

quarta-feira, 20 de março de 2013

vida de criminoso

criminoso és tu,
filho de quem jamais escreverá leis
nas assembleias-matilhas,
criminoso és tu que aos portões da fábrica
não deixas partir o que construíste
e enfrentas o escudo e a arma romba do cão-de-fila,
criminoso és tu que não vendes de borla o teu trabalho
e desafias o deus moderno
das santas bolsas e dos benditos mercados.

Cri  mi  no  so!
gritam envoltas na chinchila morta as senhoras
gritam raivosos de charuto gordo os senhores,
ai que nos levam o que nos deram a ganhar,
ai! que nos levam a mansão feita de seus ossos,
ai que nos levam a herdade feita de sua carne,
ai! que nos levam a carteira feita de sua pele,
e o manjar de sangue dos nossos banquetes!

criminoso és tu que ousas cheirar
o esterco em que te enterram e dizer a toda a gente
que um dia ousarás escrever as leis
do povo, nas ruas e nas fábricas,
e que se cada linha dessas leis valer uma vida,
muitas são as dos criminosos prontos a dá-la.

segunda-feira, 4 de março de 2013

uma falua

navega falua
tranquilas águas,
e corta com a proa pequenas ondas
de um estuário sem vento.

navega falua 
rumo à foz.

e leva nas velas a nossa voz.