foi longo o vendaval do inverno. mas tudo tem o seu fim, ainda que temporário. a superfície do mondego não estava agitada e a água podia assim reflectir sem perturbação o verde das margens vivas, o cinza da livraria litológica e o azul do céu. se é bonito o quadro que a a luz reflectida e a paisagem pintam no encaixe do mondego algures entre os distritos duros de coimbra e viseu, é porque ainda não vimos o que faz a luz refractada pelo rio adentro. aqueles raios oblíquos do sol que perfuram com novo ângulo a superfície e vão iluminar os olhos sempre abertos dos peixes que aproveitam a corrente laminar para descansar. os que lutaram, claro, porque dos outros não reza a história. e as algas, que na torrente do inverno mal se prendem na rocha do leito, agora ondulam como uma seara verde no vento suave. são assim mesmo as coisas: o mesmo rio que arrancou pedras e agitou o próprio coração de quem o viu, é o que agora permite que o espelho à sua superfície reflicta almas tranquilas.
o mesmo rio que levantava pedras, areias, siltes e argilas, não tem agora força para turvar a água com a mais pequena partícula. voltará a ter, é certo. mas só quando os finos assentam, podemos ver através da água. desta vez, parece que me terei deixado levar pela simplicidade das impressões. e eis que, assente a poeira, também se desfazem ilusões: não há meias palavras para dizer a verdade.
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<3
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