quinta-feira, 19 de outubro de 2017

sem título

enquanto o fumo do cigarro pensa 
eu vaporizo-me de um plasma aceso
tirar uma pausa
sem ter de fazer desconto de tempo
ao mesmo tempo que passa devagar
por entre a chuva lá fora o tempo
essa repetição em aceleração uniforme 
num movimento 
que 
não faço ideia 
se se parece mais com o do projéctil 
se com um linear
tendo porém por certo porque li num livro 
que é afectado pela gravidade
pela gravidade das coisas
e pela gravidade dos actos 
não há tempo que apague o passado 
não há tempo que leve o presente
todas as marcas são para sempre 

podemos não trazer na pele todas as cicatrizes
ou tatuagens
podemos não carregar as memórias
e ir largando por aí o lastro sobre as costas dos outros
podemos andar com relógio de bolso
sem hora certa
pendente de uma corrente
com azebre ou verdete
e nem por isso o porvir será livre de todas as nuvens
que já cruzaram o céu.

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